No dia 27 de maio, andando pela Praça do Campo Grande em Salvador, parei para ver o movimento dos fãs de Ivete Sangalo que se aglomeravam na entrada do condomínio onde mora a cantora. Lembrei dos anos 80 e do sucesso popular de Gal Costa, que morava no mesmo prédio. Frevos no carnaval, programas de TV, capas de discos... Imaginei os fãs de Ivete exibindo LPs como estandartes, ilustrando e colorindo aquela tietagem performática. Pensei em entrar no meio deles com meus colegas da UFBA empunhando vinis de Gal Costa... Desde esse dia passei a levar os elepês de Gal para passear comigo, para que respirem novamente os ares das ruas onde, em outros tempos, transitavam das lojas para as casas, das casas para as festas, para outras casas, escolas... Além da arte e da perfomance, confesso que essa ação consiste basicamente em algo que não cabe em mim sozinho e por isso divido, tornando-me exposição ambulante pelas ruas das cidades e convidando as pessoas para interAÇÕES originais onde quer que estejam e sem manual de instruções. A ação terminou quando a musa lançou seu disco "recanto" em dezembro de 2011.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

28 de julho - Época / Pelourinho

 Hoje uma reportagem de Danilo Casaletti na seção Mente Aberta da Revista Época:
     

mente aberta
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28/07/2011 - 09:44 - ATUALIZADO EM 28/07/2011 - 10:28
Por que ele anda com os discos da Gal debaixo do braço?
Artista plástico que mora em Salvador carrega os discos de Gal Costa para todos os lugares. O passeio só terminará quando a cantora lançar seu novo disco, previsto para o mês de setembro
DANILO CASALETTI

PELAS RUAS Scovino levou os LP's de Gal para passear em Santo Amaro da Purificação, terra de Maria Bethânia e Caetano Veloso
Você já levou seus LPs para passear hoje? A pergunta soa estranha, sobretudo porque vinis (os antigos) viraram objetos de colecionadores ou de apaixonados por músicas que podem pagar quase R$ 100 pelos novos bolachões que vêm sendo produzidos pela indústria fonográfica. Porém, sair com uma porção de discos embaixo dos braços tem feito parte da rotina do artista plástico Arthur Scovino. Há mais de um mês ele carrega – por onde quer que vá – os vinis da cantora Gal Costa. A cada dia, uma das capas fica à frente da pilha, exposta. Quando está em casa, os discos ficam na janela, à vista de todos.

Scovino, que nasceu no Rio de Janeiro, mudou-se para Salvador há dois anos para estudar na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Um dia, ao sair do curso, passou pela Praça do Campo Grande, área nobre de Salvador, e viu uma aglomeração de fãs em frente ao prédio da cantora Ivete Sangalo. Scovino lembrou que no mesmo prédio também mora Gal Costa. Segundo ele, a ideia de levar os discos debaixo do braço, na verdade uma performance artística, nasceu ali.

“Lembrei-me do tempo em que os fãs exibiam os discos nos shows para mostrar que gostavam do artista ou quando ia para uma festa carregando os LPs”, diz Scovino. Aos 30 anos de idade, ele diz recordar que, ainda pequeno, preferia gastar o dinheiro que juntava para comprar discos a adquirir brinquedos. “Aos nove anos eu fui ao supermercado e comprei o disco Plural da Gal”, diz.

Além dos passeios, que estão sendo registrados em fotos para compor, no futuro, uma instalação, o artista diz que quer dividir com as pessoas a ansiedade de ver o novo trabalho de Gal. A baiana promete para setembro um novo disco, o primeiro desde 2006, só com composições inéditas de Caetano Veloso, feitas especialmente para a sua voz. “Gosto de observar como os artistas se comportam ao longo do tempo, como suas obras mudam”, diz Scovino. A obra acaba no dia em que o álbum for lançado. Segundo ele, um grande sonho seria ver o novo trabalho – que vai ser lançado pela gravadora Universal – editado em LP.

Como muitas manifestações artísticas, a iniciativa não foi compreendida por algumas pessoas. Scovino afirma ter recebido e-mails nos quais os remetentes diziam que ele estava idolatrando uma Gal do passado em detrimento da atual. Ele nega. “Quero que a obra de Gal respire os ares das ruas”, diz.

Mas, geralmente, a performance é bem recebida. Se bem que há diferença entre os locais por onde ele já passou com os LPS. Em Salvador, diz ele, não há um dia sequer que pelo menos uma pessoa não pergunte ou puxe papo com ele sobre os discos. Em São Paulo, onde Scovino levou os discos até para a Oscar Freire, rua que concentra as maiores grifes mundiais, as pessoas, segundo ele, pouco olharam. Comentar, então, nem pensar.

Os discos de Gal já passearam também por cidades como Campinas (interior de São Paulo) e Santo Amaro da Purificação (Bahia). Os amigos de Scovino também abraçaram a causa e costumam tirar fotos dos LPS por onde passam. Aliás, essa é a ideia do artista: incentivar as pessoas a fazer parte de sua performance. Quanto mais, melhor. As fotos são postadas no blog http://elepesdegal.blogspot.com/.

O artista ainda espera levar outros cinco discos de Gal para passear: Tropicália (68), Gal (69), Legal (70), Índia (73) eDoces Bárbaros (76). Eles só não deram umas voltas por aí porque faltam na coleção de Scovino. Ele aceita doações. Há também o desejo de viajar para outros lugares, como Juazeiro, Manaus e Belém, mas falta dinheiro. “Dependo de convites de festivais e de universidades. Como a performance tem data para acabar, não sei se vou conseguir”, diz.
Mas, como diz a letra da canção "Dê um role", de Moraes Moreis e Galvão, gravada por Gal em 1971: “enquanto eles se batem/ Dê um rolê e você vai ouvir (...)Eu só tô beijando o rosto de quem dá valor/ Pra quem vale mais o gosto do que cem mil réis".

TRÊS PASSEIOS A capa de Profana em meio à religiosidade de uma capela em Mairi, no interior da Bahia; o artista e os discos na Ponta do Humaitá, em Salvador; a capa de Gal canta Caymmi na grade da igreja do Bonfim, em Salvador
link  http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI252618-15220,00.html



levando os elepês de Ga para passear no Pelourinho







Iracema

Carol Santana 
"Paradox"
Vitor Barreto

registros: Iracema Souza
28 de julho, 2011