No dia 27 de maio, andando pela Praça do Campo Grande em Salvador, parei para ver o movimento dos fãs de Ivete Sangalo que se aglomeravam na entrada do condomínio onde mora a cantora. Lembrei dos anos 80 e do sucesso popular de Gal Costa, que morava no mesmo prédio. Frevos no carnaval, programas de TV, capas de discos... Imaginei os fãs de Ivete exibindo LPs como estandartes, ilustrando e colorindo aquela tietagem performática. Pensei em entrar no meio deles com meus colegas da UFBA empunhando vinis de Gal Costa... Desde esse dia passei a levar os elepês de Gal para passear comigo, para que respirem novamente os ares das ruas onde, em outros tempos, transitavam das lojas para as casas, das casas para as festas, para outras casas, escolas... Além da arte e da perfomance, confesso que essa ação consiste basicamente em algo que não cabe em mim sozinho e por isso divido, tornando-me exposição ambulante pelas ruas das cidades e convidando as pessoas para interAÇÕES originais onde quer que estejam e sem manual de instruções. A ação terminou quando a musa lançou seu disco "recanto" em dezembro de 2011.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

03 de agosto - Indo pro Rio de Janeiro


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Carta da profesora doutora Viga Gordilho:


03/08/2011
Para Arthur,

É um tempo de gerúndio...
E Arthur Scovino, estudante de arte sabe bem disto. Carioca, 30 anos, escolheu a Universidade Federal da Bahia para fazer o seu curso de Belas Artes.
Fazendo o caminho inverso dos “Doces Bárbaros”, veio da baía de Guanabara para a baía de Todos os Santos.
Tive o prazer de tê-lo como aluno na disciplina Pintura I no semestre 2011.01, onde com  um desempenho exemplar, concluiu o curso obtendo a bolsa PIBIC (FAPESB).
Realizou na disciplina uma obra pictórica com  matriz na performance,   onde o corpo em movimento reúne a vida corrente em instantes poéticos. Os instantes poéticos de Arthur  reinventam a realidade, convidam a reflexão e caminham transitando e experimentando  linguagens distintas.
Arthur  está literalmente caminhando  na vida e na arte com vitalidade, compromisso e paixão.
Não poderei aqui deixar de  referenciar o seu último trabalho onde ele carrega, para todos os lugares que vai,  os vinis da cantora Gal Costa. A  cada dia, escolhe uma das capas  à frente da pilha, contextualizando  o lugar que irá. Instaura assim a obra de arte como um Acontecimento atemporal. Este conceito de Acontecimento vem de Gilles Deleuze (2007), para quem o acontecimento está na produção de sentido, está no sujeito. É um bloco de sensações, de afectos e perceptos, que contém um mundo em si. Assim,  Arthur vai explorando  um campo  onde incidem muitas  possibilidades e probabilidades. 

O registro da sua caminhada reflete um tempo que ele está fazendo existir ilustrado em um diário em blog interativo http://elepesdegal.blogspot.com/



Mas, como diz a letra da canção "Dê um role", de Moraes Moreis e Galvão, gravada por Gal em 1971: “enquanto eles se batem/ Dê um rolê e você vai ouvir (...) Eu só tô beijando o rosto de quem dá valor/ Pra quem vale mais o gosto do que cem mil réis"....
Então, escuta o Ary Barroso , Arthur, e segues caminhando em busca do “Sol Negro” ...
(...)

Ah! abre a cortina do passado

Tira a mãe preta do cerrado
Bota o rei congo no congado
Brasil! Pra mim!


Deixa cantar de novo o trovador

A merencória luz da lua
Toda canção do meu amor


Quero ver a sá dona caminhando

Pelos salões arrastando
O seu vestido rendado
Brasil! Pra mim, pra mim, pra mim!